quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Ter uma vida "flat" ou se indignar? Qual o melhor caminho para o crescimento?


O que me faz criar? Qual o "start" para um novo texto? Me perguntando isso hoje, e revisando meus textos do blog, percebi que o meu maior combustível é a indignação. Ela me faz pensar, criar, escrever. Quando fico realmente indignada, logo quero ir para o computador falar sobre o assunto.


Mas por que não escrevo quando estou feliz? Por que a felicidade não é combustível para novas ideias e textos? Talvez uma resposta seja: felicidade não movimenta o homem. O ser humano é inquieto por natureza. Ele quer ter um problema. Isso mesmo! O ser humano é movido à problemas.


Imagine uma pessoa feliz. Ou pelo menos satisfeita com sua vida. Ele acorda todos os dias cedo, vai pro trabalho, faz seu serviço, volta pra casa. Toma seu banho, come uma comida feita por sua esposa atenciosa. Depois senta em frente à TV, conversa com a família, e vai dormir. Aos finais de semana vai passear. Ou descansar em casa, visitar um parente, fazer um churrasquinho na chácara ou no quintal de casa. Quais as aspirações desse indivíduo?


Te digo quais são: continuar assim. Essa vida pra ele é satisfatória. Para que se esforçar mais e fazer cursos? O seu salário está bom. Sua novela chega todos os dias no mesmo horário. Sua esposa parece satisfeita (parece). Seus filhos vão bem na escola e um dia terão um emprego como o dele. Sua diversão é comprar uma costela e assar. Ele não tem sonhos maiores ou desejos. Já tem sua casinha, seu carro popular.


Esse é um indivíduo acomodado. Seus problemas são básicos. Talvez uma doença na família ou um desemprego mexam com ele um pouco. Mas é só ter a resolução que ele volta para essa mesma vida. Vida "flat". Um indivíduo assim não tem aspirações. Suas reclamações se limitam aos que estão próximos a ele e que, como ele, nada fazem para modificar as coisas. E por que um indivíduo assim escreveria um texto ou teria uma atitude real para mudar alguma coisa?


Agora imagine um sujeito inquieto. Não que ele seja infeliz, mas simplesmente ele não aceita o que está posto à sua frente. Ele quer mais. Ele sabe que tem direito à mais que isso. Mas ele não fica parado. Decide agir. Escreve um artigo, estuda, procura coisas diferentes, ensina. Esse indivíduo não é passivo. Não é mero consumidor de conteúdos. Ele é criador. Formador de opinião. E não subestime o poder de um formador de opinião!


E agora pensando nesses dois tipos de pessoa: qual delas pode fazer uma mudança real? Qual delas escreveria um texto? Nem preciso responder. Imagine um texto do senhor-satisfeito-com-sua-vida:


"MINHA vida é boa. Tenho MINHA casa. MEU carro. MINHA família está sempre comigo nos MEUS momentos mais importantes. Não penso em mudar nada. Importante é MINHA vida estar bem. O governo está ruim? Mas EU não tenho passado dificuldade. O vizinho está com problemas? EU não tenho nada a ver com isso. Por que eu estudaria? Isso cansa. Prefiro ver MINHA TV a noite, passear. Não quero mudar nada. Está tudo bom".


Argh. Bem individualista. Egocêntrico. Passivo.


Agora o texto do inquieto, do indignado:


"Minha vida não é ruim. Tenho um emprego e uma casa. Mas sei que POSSO MELHORAR. Não aceito ver toda essa situação injusta no mundo. Creio que todos precisamos trabalhar para isso. Tem um curso novo? Se isso vai ajudar a dar mais qualidade ao meu trabalho e me diferenciar, vou fazer. Apenas ver TV? Não! Quero escolher o que assistir. Será que minha esposa está feliz? Preciso conversar com ela, com meus filhos. Se puder fazer algo para que fiquem felizes, farei. Aliás, estou me inscrevendo num novo curso, e minha esposa vai fazer uma aula que gosta muito: finanças. Ela me disse ontem que se sente feliz ao meu lado e que juntos poderemos transformar nossa vida em algo melhor do que já é. O que tenho é bom. Mas pode ser ainda melhor se eu lutar".


O indignado escreve. Lê. Opina. Faz. Transforma. Cria. É ele que muda algo, que inspira. O acomodado "feliz", na verdade, não vê os outros. Só a si. Por isso vou continuar me indignando. Continuar me movendo. Estudando. Criando. Creio que estou muito longe do patamar de especialista em algo. E creio que nunca chegarei a isto plenamente. Ninguém chegará. Porque essa á a delícia do mundo. O aprendizado constante. A delícia do mundo é se indignar. E ficar feliz com a resolução. Ou não. Nem todas as nossas indignações podem ser resolvidas. E esse combustível, esse impulso é o que transforma água em vinho.