sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A pílula da desalfabetização

"Mas a partir do momento
Que aprendeu a andar
Emília tomou uma pílula
E tagarelou,tagarelou a falar
Tagarelou,tagarelou a falar" 

(Trecho da Música: "Emília, a boneca-gente" de Baby do Brasil)

Emília tomou uma pílula. E tagarelou a falar. Falava de tudo. Falava pelos cotovelos. Dava nó até em pingo d´água! E a criança brasileira? Como se chama a pílula dela? Escola? Alfabetização? 

A ordem natural das coisas sempre foi nascer, crescer, aprender, se aperfeiçoar, produzir, morrer. Como se a criança tomasse a pílula da fala, da alfabetização, da criatividade. mas essa ordem parece ter mudado totalmente. Sinto até que estão dando a pílula da "desalfabetização" na água dos pequenos. Ela parece ser mais forte que a pílula da Emília. Tanto a do Sítio, quanto a Ferreiro. 


Essa pílula entra pelos ouvidos e olhos. Se mistura ao sangue, vai pras células. E aí...o efeito é irreversível. Algumas amostras dessa pílula são distribuídas gratuitamente em sons ensurdecedores de carros que passam pela rua e não deixam ninguém sem ser atingido. Outras, são distribuídas pela internet, redes sociais, nos "agente acha" ou nos " concerteza". Ui! Outras ainda, nas rodinhas de conversa entre amigos. 

O sintoma principal dessa pílula tomada é não conseguir mais se expressar em português correto. O uso de expressões com segundos e terceiros sentidos, e todos pejorativos, se instalam. Após, o gosto musical. Ele se altera tanto a ponto de achar que barulho é música e Mozart é ruído. Depois disso a mudança aparece fisicamente. Só de olhar já se sabe quem tomou ou não esta pílula. A atitude evidencia. 

Pronto, a partir daí, está instalado todo o dano e efeitos colaterais dessa pílula. Mas tem reversão. Vou aviar agora mesmo esta receita. Anote bem, se você encontrar alguém nesta situação, siga os passos que vou descrever agora: 

1- Troque o cd do rádio da pessoa por Mozart, MPB, Rock de qualidade, Jazz. Aumente o volume e deixe-a ouvindo por algumas horas. 
2- Leia Luís Fernando Veríssimo pra ela, conte histórias reais do Brasil, mas de maneira alegre, dramatizada, entrando na história, envolvendo-a, dialogando. Leia os clássicos, um bom poema, até mesmo piadas de bom gosto. Leia, leia, leia. Ensine o prazer de ter um livro novo nas mãos e sentir o agradável cheiro de papel. 
3- Leve-a para um local onde transpire arte, um museu, uma galeria, uma exposição. Fale animadamente sobre as obras, demonstre prazer em estar ali, em aprender. 
4- Ajude-a a ver suas qualidades, a descobrir seus talentos, a valorizar o que pode fazer de bom. 
5- Ensine a ela como usar as mídias, como e onde procurar, o que achar de bom. Que a internet tem um mundo, um universo. não apenas redes sociais.

Essas recomendações devem ser seguidas por muitos anos. desde a tenra idade até a velhice.  E os efeitos colaterais? Tem muitos e agradabilíssimos. Duvida? Faça o teste agora mesmo. Comece. Não importa a idade. Não tem contra indicações. Qual pílula você vai escolher? 










Mau humor político no Brasil

Sinto que está instalada no Brasil hoje uma Guerra Psicológica. E política. Ela chegou sorrateira,e teve seu auge no resultado do segundo turno das eleições presidenciais de 2014. Discussões em redes sociais, em rodas de amigos...política é arroz e feijão nos dias de hoje.

Isso tem um lado bom. As pessoas parecem não estar tão alienadas como pensávamos. Estão opinando, verificando o passado dos políticos, fiscalizando seus atos, estão atentas aos noticiários...Muito interessante, pode gerar bons frutos.


O que não tem gerado bons frutos é a intolerância, o ódio, o absolutismo, o fanatismo político, o egoísmo. Amizades duradouras tem acabado. Ao dar sua opinião, recebe ofensas. Não há um diálogo político de qualidade. Como li, em um artigo na Revista Galileu de 31/10/14, por Bia Granja, "A democracia não estava lá". Ela diz que "a internet e as redes sociais estavam maduras para a eleição, mas nós não". Nossos diálogos políticos pareciam mais uma conversa entre um corinthiano e um palmeirense fanáticos. O meu ponto de vista é o certo e ponto. Que se dane o resto!

Eu mesma, ao expor minha posição política numa rede social, fui alvo de desrespeito e descortesia por parte de amigos que considerava muito. Sorte deles que eu não ser intolerante e estar aberta ao diálogo, mesmo sendo agredida. Senão, "bye bye" amizade.

Vamos aproveitar este momento importante e nos tornarmos cidadãos conscientes, que fiscalizam os políticos que elegeram. Vamos respeitar as opiniões, debater, ser ativos. Não adianta brigar pela Copa milionária e depois deixar a corrupção a solta e não fazer nada. Brasil, você tem jeito. É só o seu povo agir com consciência.

Ao invés de guerrearmos entre nós, vamos unir forças e lutar contra o inimigo da corrupção, da injustiça, da fome. Vamos olhar juntos para onde interessa.

Chega de dormir, Brasil e, por favor, quando acordar, que não seja de mau humor!


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Um dia épico com Murphy

Quatro da madruga. Soninho gostoso, clima fresco. Propício para continuar dormindo. Então começou . Os filhotes da Sophie, cinco filhotes, começaram a chorar, latir, rosnar e todos os barulhos mais que um cão pequeno pode fazer. Vira pra lá, vira pra cá, na esperança de que fiquem com sono e durmam. Nada. Continuam a barulheira. Resolvo levantar então e fazer algo. Água? Paninho pra se aquecer? Enfim, levei todos pra copa. Pelo menos o som ficaria mais distante. Mas foi aí que gritaram ainda mais. Minutos depois o meu despertador. 5h50. Respira, vai pro banheiro.



Ajudo uma filha a se arrumar pra escola, insulina, lanche, cabelo. Vai pra van. Acordo o segundo, umas três vezes antes que ele fique em pé porque, pra ajudar, a luz de seu quarto queimou e, com o horário de verão ainda está escuro esse horário. Corre daqui, dali, faz um suco pra ele...pronto, foi pra escola.

Penso que vou sentar um pouco, antes de ir pro trabalho, mas não...percebo que ainda não fiz algumas coisas. Tenho roupa de ontem pra guardar, marmita pra fazer, água pra por na garrafinha, ração pra alimentar os cães, já que estão famintos e não aguentam esperar por meu pai...fora me vestir e tomar café, ou seja, não terei tempo de sentar.

Enfim, vou pro trabalho. Percebo que preciso abastecer o carro. E colocar gasolina no reservatório! Mesmo tendo acordado muito cedo, percebo que estou atrasada. Vamos acelerar! Como a Lei de Murphy não perdoa ninguém, claro, temos fila no posto e obras da companhia de água no meu trajeto...

Rodovia lotada, claaaro. Chego no trabalho. Calor, ventilador jogando vento quente. Vou usar a internet e...nada. Percebo que estamos com problemas técnicos. Ou de sinal. Ou de preguiça da operadora mesmo em resolver. Fico com as tarefas de computador atrasadas. Tudo bem, amanhã faço em dobro!

Vou direto pro médico. Ele sempre é muito rápido. Hahaha...Murphy, ah se eu te pego!!! Espero por mais de uma hora e percebo: está na hora de buscar meu filho no curso e levar pra psicóloga! Saio de lá, sem dar satisfações, sem remarcar pois, nunca teve fila pra isso e neste dia tinha apenas vinte na minha frente. Pego um lanche pra ele e desço correndo. Chegamos atrasados.

Em casa, tenho poucos minutos pra sair pro Pilates. Agilizo o quanto posso. Fico contente, pois consigo sair de casa minutos antes de  que sempre saio. Porém...pego um congestionamento na Comendador que nunca vi antes. Sempre pego as preferenciais pra evitar o trânsito. Desta vez não houve maneira. Mando então um torpedo pra minha professora: vou me atrasar!

Consigo chegar, atrapalho a concentração do pessoal, mas todos, mesmo assim, são muito corteses comigo. O que salva é que a aula foi maravilhosa. Lá eu desligo do mundo.

Ao sair de lá, meu noivo me diz pra ir a um velório de uma amiga com ele...que chave de ouro! Porém, quando estou correndo pra chegar em casa, comer, tomar banho e tal, ele me avisa: não vou poder ir mais. Me resta então descansar, amém! Mas não, pra fechar o "lindo" dia, percebo que os mesmo filhotes que me acordaram de manhã, haviam escapado, entrado no meu quarto e deixado pequenos presentinhos no chão!!! AAAAAAAAA! Épico. Não é mesmo Murphy palhaço???





quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Geração Y: os verdadeiros Nativos Digitais

Há um tempo venho ouvindo de amigos, professores da faculdade e outros, que nossos alunos, filhos, sabem muito mais de tecnologias do que nós. Que intuitivamente mexem com o celular, tablet e outros recursos. Chamam esses jovens, essas crianças de “Nativos Digitais”. São nascidos no final do século XX e início deste século. Eles teriam como característica principal o fato de terem nascido já com a tecnologia digital, com a internet. São a Geração “Z”.

Porém, há um equívoco em tudo isso. Se meus pais, que tem a média de sessenta anos de idade dissessem isso, que seus filhos sabem muito mais de tecnologia que eles, concordo. Eles tiveram que aprender o que era cada um desses recursos, depois de uma certa idade. Lembro do meu bisavô, Joaquim, um espanhol nato que, quando chegou a TV em sua casa, conversava com as pessoas da tela, as convidava para um café, acreditando que realmente estavam ali. Engraçado? Mas aquilo era algo muito maior que ele poderia entender. Ah, ele estava em seu juízo normal, caso queiram saber.

Vejo um erro na nossa geração, que se situa entre 22 a 37 anos de idade em média, ao dizer que os filhos sabem mais. Peraí!!! Vamos relembrar nossa infância Geração Y? Vou falar da minha. Cada um faz sua ponte.




Em minha infância cresci sim com as tecnologias. Nos anos 80 já tinha vídeo game e, mesmo quem não tinha como comprar um, sempre tinha um primo, vizinho, parente em que juntava a molecada para jogar. Tínhamos vários brinquedos que vejo hoje as grandes empresas relançando. Bonecas que falam, patinam, fazem bolhas, xixi... carrinhos com controles, robozinhos, computadores infantis. Vai me dizer que isso já não é tecnologia? E os vídeo cassetes e filmadoras, que manejávamos, programávamos para os nossos pais, que se enrolavam todos?



Na escola, me lembro bem, tinha aula de informática, começo dos anos 90. Usávamos um computador antigo, daqueles que ainda tinha a tela preta, com letrinhas verdes. Para fazer um pontinho mexer na tela, era necessário escrever linhas e mais linhas de programação. E se errasse uma vírgula...ai! Que tristeza, revisar toda a programação... Mas, ao final, ao ver acontecendo o resultado da programação, nossa, que alegria! Me sentia nos filmes de ficção. Era a aula que eu mais esperava na semana. 


Na adolescência, logo conheci o famoso PC com Windows 3.11. Era uma novidade. Meus amigos da escola iam em casa, eu ia na casa deles, pra podermos jogar. Joguinhos simples, que hoje a criançada acha bobinhos. Mas era o máximo! Então, eu e meus amigos resolvemos escrever um jornal da escola. Ficou tão legal! Como eu gostaria de ter guardado uma cópia. Em disquete...aham... até parece que estaria vivo até hoje. Também me lembro que ficava doidinha vendo meu pai fazer o Imposto de Renda, e levando pra Receita, naquele bendito disquetão, o primeiro, que parecia um papel. Achava meu pai super tecnológico, diferente dos outros pais.


Ainda no início da Internet no Brasil, nós, pré-adolescentes e crianças, vimos seu nascimento, aprendemos a utilizá-la ao mesmo tempo em que ela evoluía.





Devo concluir, então, que nós, "os pais" da Geração Z (nascidos na virada do século até os dias atuais), somos totalmente integrados às tecnologias digitais e, ao contrário dos nossos filhos, que pegaram tudo prontinho, acompanhamos e crescemos ao mesmo tempo em que a tecnologia se desenvolvia. Passamos por cada etapa da evolução do computador pessoal. Filmamos com Fita K7, com DVD, com Cartão de Memória. Conhecemos o Visual Basic, MS-DOS... coisas que as crianças já ouviram falar, mas nem sabem como lidar (pelo menos a maioria delas que não está estudando informática...). Usamos os primeiros telefones sem fio, enormes, acompanhamos o nascimento do celular. Nós da Geração Y sim, somos os verdadeiros Nativos Digitais. Aliás, somos os primeiros. A partir de nós todos são.  





domingo, 12 de outubro de 2014

Educação Brasileira: vê se acorda e não dorme mais!

Olá! Começo este post devido à uma inquietação. Aliás, ela não é recente. Ela está em mim desde antes de eu estudar pedagogia. Portanto, antes de mais nada, ou que digam que uma leiga está querendo debater sobre o que não sabe, vou apresentar minha experiência com o tema que vou tratar.

Sou pedagoga formada, pela UNESP, Bauru. Comecei a dar aulas aos quinze anos de idade. Passei por teclado, artes, inglês, musicalização...Trabalhei com EJA (Educação de Jovens e Adultos), durante os anos da faculdade. Depois de formada trabalhei com formação de professores em tecnologias, monitora de informática, professora de ensino fundamental e infantil dentro de escolas públicas. Quando comecei a tentar o Mestrado em Educação, cursando uma especialização em Educação a Distância, minha filha ficou diabética e comecei a repensar minha vida e se eu realmente queria seguir a carreira ou não. A resposta foi não. Fiquei 17 anos na área educacional, portanto.

Agora posso continuar.


O modelo de escola brasileira me inquieta muito. Mudanças bem pequenas tem sido aplicadas. Porém continuamos praticamente no mesmo Ensino Tradicional. A escola brasileira, como diz meu filho sobre seu desinteresse em matemática, quer preparar futuros "einsteins" e não futuros "cidadãos".

Começo da grade curricular e cito um modelo de escola que muito me agrada, que, para quem estuda educação, já deve estar familiarizado: Suécia e Finlândia. Sim, temos diferenças sociais imensas com esses países. Sim, são países menores que o Brasil. Porém, o modelo deles seria interessante para o tipo de cidadão que o país pretende formar. Aqui no Brasil existem discursos, que estudei diversas vezes tanto na universidade, quanto para concursos públicos, sobre formar o aluno como um todo, formar cidadãos conscientes...e como a escola brasileira tenta formar isso? Ensinando muita matemática e poucas noções da vida prática! Lendo sobre a educação dos países que citei, percebi que eles dão ênfase, para religião (cada um estuda a sua), línguas (estudam várias e muito bem a materna) e artes. Além disso, eles tem como principal ponto a ser desenvolvido, a AUTONOMIA.

Excelente. Aulas onde aprendem educação doméstica, financeira, artes...aprendem a ser cidadãos. No Brasil a proposta é a mesma formar cidadãos críticos, conscientes, participativos. E então, ainda na tenra idade se cobra uma matemática que nunca usarão na sua vida. Aprendem logarítmo, mas não sabem montar uma planilha de gastos, um orçamento doméstico, organização do tempo... Aprendem todas as regras de ortografia, mas não tem prazer em ler um livro e e ir descobrindo as regras sozinhos, apenas para sistematizar depois.

E passando do fundamental, o aluno tem as disciplinas básicas, mas pode ir para uma escola de acordo com seus interesses, pois as escolas, apesar de privadas, são pagas pelo governo. E quanto mais alunos recebem, maior a verba do governo, maior a qualidade e o investimento.



Claro que o ideal seria termos famílias mais estruturadas e tal. Mas vamos trabalhar com a realidade. Se o governo quer ajudar tanto, vamos pegar o conceito de autonomia das escolas suecas e finlandesas. Primeiro: corte a bolsa família e outras bolsas "peixe" e invista mais na formação de "pescadores". O peixe pescado tem mais sabor que o dado. E tem mais valor também. Interesses políticos existem de continuar assim. Não entremos neste mérito da questão.

Os modelos finlandeses e suecos, além do norte americano, tem em comum o período integral, diversidade de matérias, muitas flexíveis. Ajuda muito os pais que precisam trabalhar e não tem onde deixar os filhos.

Ouvimos muito falar nessas eleições sobre as escolas de tempo integral. Mas de que modo? Pegar a bendita grade curricular brasileira e estender por dois períodos? O que o aluno ganha? Mais algumas refeições e uma creche para os pais? Se esta escola se propuser a ter uma educação verdadeiramente global, ótimo. Ponto pro Brasil. O brasileiro hoje não sabe organizar um orçamento, se enrola nas dívidas. Não sabe apreciar uma obra de arte, uma música agradável. Não sabe escrever, nem ler corretamente.

Aqui no Brasil existe a falsa ideia de que o estudo nos dá alguma mobilidade social. Podemos contar nos dedos os filhos ricos do estudo. Com uma educação integral, focada no ser humano, teríamos mais empreendedores, mais pessoas felizes, na profissão que gostam. Não teríamos tantos médicos sem vocação, apenas pelo dinheiro.

Porém, um alerta: nada disso dará certo se simplesmente copiarmos o modelo de sucesso desses países. O Brasil precisa criar seu próprio modelo, claro, se valendo da boa experiência de outros lugares, Políticos: deixem os bons pedagogos e pensadores da educação brasileira pensar a educação, criar um plano especial para o Brasil! Nada de administrador dando pitaco na educação.

Quando repensei meus valores e se eu realmente queria continuar na educação, a resposta foi a seguinte: amei minha faculdade, e a educação. Mas aqui, nesses termos do Brasil, onde o professor é tratado com total falta de respeito, sem valor, criticado por alunos, pais, direção. Bombardeado por todos os lados para estudar, se atualizar, trabalhar por três períodos e no final de semana... não, esse tipo de trabalho insano estava me fazendo infeliz. E com isso, me tornando uma professora infeliz que meus alunos não mereciam ter.

Acorda Brasil! E veja se não dorme mais...